sábado, 8 de outubro de 2011

Aparecida Panisset: a prefeita que adora uma guerra santa

Fonte: Extra Online


Aparecida Panisset se envolve em mais polêmicas santas Foto: Roberto Moreyra / EXTRA
Antero Gomes

Aparecida Panisset se apresenta quase como uma personagem bíblica quando fala de si por meio de parábolas. “Um dia” é o advérbio que ela usa a cada começo de versículo sobre uma passagem de sua vida. “Um dia — narra a prefeita de São Gonçalo — eu estava em campanha para a prefeitura, em 2004, não tínhamos dinheiro sequer para alugar outdoor; eu me perguntava como é que iria fazer, e, aí, Deus falou assim para mim: Neemias 2,17”.
— Desse trecho bíblico, que fala da reconstrução de Jerusalém, criei o slogan “Reconstruindo São Gonçalo”(...). Eu não tinha nada. Eu era uma gota no oceano — diz Panisset, pintando com nuances de martírio aquela campanha em que participava de “modestas” caminhadas com seus correligionários alimentados “a banana e água”.
Naquelas eleições, a evangélica Aparecida — mesmo nome da santa católica Nossa Senhora de Aparecida — fez uma revelação ao povo gonçalense. Ao derrotar, numa virada de última hora, a candidata Graça Matos, mostrou que seria uma das grandes forças políticas do município. Seus adversários a acusaram de ter espalhado jornais pela cidade com fotomontagens em que Graça, na época com forte adesão do eleitorado evangélico, aparecia vestida de “macumbeira”. A autoria nunca foi provada.
Casada com o poder
Para a solteiríssima Panisset, “um dia” equivale à expressão “era uma vez” dos contos de fadas. Deslumbrada com a própria história de ascensão política, usando um inseparável anel talhado com a inscrição em hebraico “eu sou do meu amado, meu amado é meu”, ela diz que se casou com a prefeitura. Subiu ao altar — por assim dizer — no dia em que tomou posse no Executivo. Na ocasião, vestia uma roupa cujo tecido fora comprado numa liquidação a R$ 8,90, o metro.
À frente do município desde 2005, ela não se mostrou tão econômica assim com as finanças da nova família. Comprou desde merenda escolar a cimento sem licitação ou com valores acima dos praticados no mercado. No Tribunal de $do Estado (TCE), acumula, só em relação a condenações entre 2010 e fevereiro de 2011, R$ 1,2 milhão em multas e débitos. Fora o patrimônio declarado de R$ 144 mil, se depender do salário integral como prefeita, levará nove anos para pagar a conta.
— Aparecida é uma das campeãs de irregularidades no estado — diz o conselheiro do TCE José Graciosa.
Nas ruas, longe dos números frios dos tribunais, Aparecida é beijada e abraçada em meio à enxurrada de asfalto novo e inaugurações na cidade. Boa parte dos recursos vem da União, a partir de 2007. Naquele ano, ela pulou do DEM para o PDT — partido da base do governo e do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Muitas vezes ajudada por Lupi, que agenda encontros com seus pares na Esplanada dos Ministérios, Panisset conseguiu subir sua carteira de valores liberados em convênios de R$ 1,7 milhão, em 2007, para R$ 30 milhões, este ano.



Numa quarta-feira de setembro, o EXTRA acompanhou Aparecida num desses encontros com o eleitorado gonçalense. Sua assessoria agendou uma visitinha a algumas das inúmeras ruas do bairro Trindade que estão sendo pavimentadas. Simpática, abraçou calorosamente o repórter. Amável além do necessário, retribuiu cumprimentos até a quem passava sem tê-la cumprimentado. Vestindo um tailleur de tweed, pisou no piche quente. Beijou criança. Abraçou velhinha...
Mas havia uma frágil harmonia em tudo aquilo. Algo fora do lugar, por trás do “casamento de aparências”. Além do barulho dos tratores em comunhão com o entusiasmo das pessoas. Além das faixas, estendidas entre os postes, nas quais “os moradores agradecem à prefeita Aparecida Panisset por mais esta obra”. Faixas confeccionadas com os mesmos tipos, tamanhos e cores de letras de outras dezenas espalhadas, em tese, por moradores de outros bairros.




Na Rua Recife, irrompe um morador. Ele agradece pelo asfalto, mas pergunta: “E o esgoto, prefeita, quando chega?”. É como se um vaso de rosas se quebrasse na sala de estar. Aparecida tenta varrer para debaixo do tapete: “Vou pedir para ligar na sua casa”. O morador quer saber quando. O repórter quer saber quando. Quando? Quando?
— Quem vai colocar o esgoto é o estado. Não vai precisar quebrar o asfalto. Vai correr sob a calçada. A Secretaria estadual de Ambiente já licitou a obra. Vai começar em breve — diz ela, desmentida depois pela secretaria, que informou não haver projeto nem licitação prontos, embora a região deva ser beneficiada num prazo de DOIS anos. Ops. Corta.
Aparecida responde a onze ações civis públicas propostas pelo Ministério Público. Uma delas chama a atenção por mostrar como o clã Panisset trata os “bens da família”. Diz respeito à área da Saúde, que teve, em sete anos, sucessivas crises e seis secretários. O atual é o irmão da prefeita, Márcio Panisset. Essa ação do MP conta a seguinte historinha:
Um dia...todos os veículos do setor de remoções da Secretaria de Saúde foram desviados para transportar pessoas, bebida e comida para uma festa de Márcio Panisset, num sítio em Itaboraí. Enquanto isso, durante aquele 15 de dezembro de 2009, o setor de remoções ficou fechado.
Aparecida diz estar tranquila sobre as denúncias. Dorme sem calmantes. Sorte dela. Se precisasse de um Diazepam, durante boa parte de agosto e setembro, e pedisse para um funcionário buscar no posto de saúde a um quilômetro do seu gabinete, ia ficar na mão. Estava em falta!! Precisar, ela não precisa, mas vai que “um dia”...

Prefeitura de São Gonçalo poderá tombar terreno onde nasceu a umbanda

Fonte: Extra Online


Pai Cristiano de Oxalá luta na Justiça para que seu centro não seja desapropriado pela prefeitura de São Gonçalo Foto: Clarissa Monteagudo
Clarissa Monteagudo

A luta da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa pela preservação da história da umbanda em São Gonçalo, município onde nasceu a religião, deu um passo decisivo ontem. Após quatro dias de tentativas, as portas da prefeitura da cidade se abriram para os religiosos.
No encontro com o chefe de gabinete da prefeita Aparecida Panisset, Eugênio Abreu, foi protocolado um documento pedindo tombamento do solo onde ficava a casa considerada berço da umbanda, vendida e demolida para a construção de uma loja. No local, foi realizada a sessão que fundou a religião, liderada pelo médium Zélio de Moraes, em 1908. Hoje, só há escombros do pequeno imóvel localizado na rua Floriano Peixoto, em Neves.
— Se você derruba o imóvel, ele pode ser reconstruído. A secretaria da Presidência da República se comprometeu, caso a prefeita ceda, articular a formação do Museu da Umbanda junto ao Ministério da Cultura — disse o babalaô Ivanir dos Santos.
Terreiro preservado
O pai de santo Cristiano de Oxalá também contou o drama que viveu após ver o Centro Espírita Umbandista Caboclo Pena de Ouro, fundado por seu pai, em Sacramento, ser desapropriado pela prefeitura em 2010. No terreno, seria construída uma vila olímpíca. Abreu explicou que o projeto mudou e o templo religioso será preservado.
— Eu nasci nessa casa, aqui moram minha mulher e minhas filhas. Pedi demissão de meu emprego, em São Paulo, para vir defender minha família e meu solo sagrado. Quero ver esse novo projeto. Essa propriedade é patrimônio da minha família. Não quero que um oficial de justiça apareça um dia me mandando sair daqui — reclamou Cristiano.

Umbanda é o retrato do Brasil, diz pastor

Fonte: Extra Online




Casa onde nasceu a umbanda em foto tirada em 2008: patrimônio histórico e cultural destruído Foto: Arquivo

Clarissa Monteagudo

A umbanda é um retrato da alma brasileira, e seu patrimônio deve ser muito bem cuidado porque é parte da riqueza cultural do Brasil. Essa é a opinião do teólogo e pastor presbiteriano da Igreja Reformada Ecumênica, Alexandre Marques:
— A umbanda é uma religião de profunda tolerância por ser, sobretudo, ecumênica. Em seus templos, há imagens de Jesus, respeito à Bíblia, às tradições do Nordeste. É uma religião que consegue congregar elementos diversos, justamente porque representa um retrato da alma brasileira. Nosso povo é profundamente mestiço e congregador.
Lição de democracia
Para o pastor, o respeito às tradições e a capacidade de diálogo e tolerância com as religiões são atos que preservam o espírito democrático do país inteiro:
— Todo o patrimônio religioso deve ser respeitado como monumento. Cada templo é uma referência porque mostra raízes distintas, mas que enriquecem o povo inteiro. Seja um centro espírita, uma catedral católica, uma igreja evangélica, um terreiro de candomblé.

Pastor presbiteriano abandona preconceito e se torna uma das principais vozes contra a intolerância religiosa

Fonte: Extra Online


O pastor presbiteriano Marcos Amaral Foto: Divulgação
Na primeira Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa em 2008, o pastor Marcos Amaral, da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, aceitou o convite do babalaô Ivanir dos Santos, seu amigo dos tempos de articulação política, para representar os evangélicos. Foi na cara e na coragem, como diz. Ao ver a multidão em trajes afro, o pastor gelou. Até então, aquela imagem era associada ao demônio. Apavorado, Marcos Amaral buscou refúgio no alto do carro de som. Mas, ao descer, o pedido de uma senhora fez o líder mudar de rota e se tornar hoje uma das principais vozes em defesa da liberdade religiosa.
— Eu estava morrendo de medo. Nunca tinha estado em contato com “essa gente” porque, para mim, nessa época, não eram pessoas. Quando desci, pensei em ir embora. Quando estava saindo, uma jovem correu atrás de mim e me pediu para tirar uma foto com a mãe dela. Vi uma senhora negra com roupas de baiana. Ela me pediu: “O senhor pode orar por mim?” e botou a minha mão no turbante dela. Aquela velhinha me quebrou. Nunca mais a vi, mas ela nunca saiu de mim — lembrou o pastor.
Autor de livros como “De volta para casa” e eleito presidente do Sínodo da Guanabara, que congrega mais de 50 igrejas, Marcos Amaral realizará, nesta segunda-feira, reunião de lideranças com participação do reverendo Roberto Brasileiro, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, na Universidade Mackenzie, no Centro.
Um de seus objetivos é, por meio da união dos líderes presbiterianos, representar uma voz em defesa dos valores reais da religião, como a ética. Ele se assusta quando vê as atitudes desequilibradas feitas em nome de uma suposta fé por líderes de novas seitas que se dizem evangélicas. O verdadeiro cristão, ele ensina, tem outro comportamento.
— Cristo só foi intolerante com os líderes de sua própria nação, quando estes eram intolerantes com as pessoas. Jesus foi o primeiro a dar sinais de compreensão aos que seriam os umbandistas da época, como o centurião romano, que era politeísta (adorava vários deuses). Cristo nos ensinou o amor — encerra Amaral.
Entrevista com pastor Marcos Amaral
O senhor sofreu críticas dentro da igreja ao dialogar com outras religiões quando se aproximou da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa?
Ao longo desses quatro anos, sofri incompreensões. Mas fui me fortalecendo e, ao mesmo tempo, o movimento pela defesa da liberdade religiosa foi ganhando tanta transparência que hoje as pessoas

Mais um terreiro de umbanda é condenado à destruição em São Gonçalo

Fonte: Extra Online


Pai Cristiano de Oxalá em frente ao centro, em São Gonçalo Foto: Thiago Lontra / Extra
Clarissa Monteagudo e Hieros Vasconcelos

Era o dia da liberdade, da abolição da escravatura e, na tradição da umbanda, da festa dos pretos velhos, entidades que simbolizam os povos do cativeiro. Mas, para Cristiano Ramos Batista, de 37 anos, herdeiro de uma das mais tradicionais famílias umbandistas de São Gonçalo, 13 de maio — e, especificamente, o de 2010 — tornou-se marco da luta contra a destruição de seu patrimônio religioso.
Nessa data, a prefeita Aparecida Panisset, evangélica, assinou um decreto desapropriando o terreno onde está, há 40 anos, o Centro Espírita Umbandista Caboclo Pena de Ouro, comandado por Cristiano. No dia seguinte, a decisão foi publicada no Diário Oficial do município.
Esta semana, outro marco da religião começou a ser posto abaixo na cidade: a casa no bairro de Neves onde, há 103 anos, foi fundada a umbanda. A demolição poderia ter sido evitada com um decreto da prefeita. Nesta quarta-feira, durante o abraço simbólico ao berço da umbanda, integrantes de religiões de matriz africana denunciaram que sofrem perseguição em São Gonçalo.
— Vivemos numa cidade na qual, há oito anos, não há um governante que respeite a diversidade religiosa do povo que o elegeu — afirma a ialorixá Mãe Márcia de Oxum.
O imóvel do Centro Caboclo Pena de Ouro será demolido para a construção de uma vila olímpica. Cristiano entrou na Justiça contra a obra:
— Queremos o direito de dar continuidade ao nosso trabalho espiritual.
O terreno do Centro Espírita Umbandista Caboclo Pena de Ouro tem 23 mil metros quadrados. Cerca de 60% da propriedade são de mata atlântica, com espécies nativas preservadas. O pai de santo, batizado na religião como Cristiano de Oxalá, conta que, no último ano, funcionários da prefeitura entraram na propriedade e começaram as obras. O religioso reclama que nunca houve diálogo apesar das várias tentativas.
— Tentamos negociar para que deixem pelo menos o espaço onde são realizados os trabalhos espirituais. Estamos lutando há um ano. Já fecharam a entrada da propriedade com tapumes, invadiram o terreno para passar manilhas. Agora, as obras estão paradas porque a verba para a vila olímpica foi bloqueada pelo Ministério dos Esportes — diz o pai de santo.
O templo nasceu há 40 anos no bairro de Sacramento. Antes, estava instalado em Niterói. A história de pai Cristiano de Oxalá tem raízes no terreiro destruído anteontem no bairro de Neves.
— Meu pai foi iniciado por Mãe Vitória, que frequentava o terreiro de Zélio de Moraes — relata, referindo-se ao fundador da religião.
Além da atuação religiosa, o Centro Espírita Caboclo Pena de Ouro distribui cestas básicas nos fins de ano e cede espaço do seu terreno para professores treinarem, gratuitamente, crianças no futebol:
— Somos aceitos por toda a comunidade. Temos apoio de todos os comerciantes locais, como de outros bairros que sempre nos prestigiaram na nossa cidade.